Uiliam José da Silva é guaraciense, pintor e professor de artes, formado em Licenciatura Plena, em Educação Artística, pela Universidade de Franca. Uiliam é autor do projeto que vem caracterizando os prédios públicos de Guaraci com as referências estilizadas das composições de Mondrian.
P – Uiliam, você pinta desde a infância?
R - Desde criança tenho contato com desenho e pintura. Sempre gostei de me expressar através de desenhos.
P - Qual foi a primeira pessoa que acreditou no seu talento?
R - Minha inesquecível professora, Terezinha Correa da Silva (Tê), que muito me apoiou e me incentivou, em todas as horas, desde os meus 10 anos de idade.
P - O local onde nascemos influencia nossas vidas, Guaraci tem alguma influência sobre seu trabalho?
R -Sim e muito. Como disse Willian Shakespeare: “Depois de algum tempo você aprende a construir todas as estradas no hoje, porque o terreno amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...”
P - Foi sua opção cursar uma faculdade ligada às artes, ou você chegou a pensar em outras possibilidades?
R - Não tive opção e nem pensei em cursar outra coisa, simplesmente eu segui os conselhos da Tê, ela vivia dizendo que eu iria me tornar artista e tinha que fazer uma faculdade de artes.
P - De alguma forma e dentro do histórico de suas pinturas, você considera que sofreu influência de algum artista de renome?
R - Sim, de vários artistas, pois todos os artistas expressam a verdadeira natureza humana, o que muda, são suas técnicas. Admiro muito Da Vinci e Rafael na renascença; Miró e Dalí no surrealismo; Aleijadinho e Caravaggio no barroco e rococó; Mondrian e Kandinsky no abstracionismo; Portinari e Tarsila e Di Cavalcanti no modernismo; e na contemporaneidade, Beatriz Milhazes, Hélio Oiticica, Ligia Pape, Arnaldo Antunes e por ai vai.
P - Dentro de sua formação, você pode relacionar alguns nomes de pintores famosos que você mais gosta?
R - Piet Mondrian, Van Gogh, mestre Lisboa e Sebastião Salgado.
P - Dentre eles tem alguma tela, afresco, cartaz, ou escultura que você gosta mais?
R - Têm vários, mas a obra que mais me chama atenção são os doze profetas esculpidos em pedra sabão por Antonio Francisco Lisboa, o aleijadinho.
P - Falando sobre seus quadros, como decide sobre os títulos?
R - Depende do contexto em que se encontra.
P - Já lhe ocorreu de pintar um quadro e não gostar do que viu?
R - Várias vezes. E fico feliz por isso, porque a criatividade e a “Gestalt” melhoram cada vez mais.
P - Quais as telas, dentre as muitas que você pintou que gosta mais?
R – Gosto de alguns retratos que fiz em óleo sobre tela. São telas que retratam pessoas que tive a oportunidade de conhecer e de registrar a expressão de suas personalidades. Gosto também do resultado da técnica que empreguei nessas telas, são pinturas próximas do hiperrealismo. Selecionei algumas fotos dessas telas: Julia, Vinícius, Catimbau o Escravo da Alegria e Walter Bortolato.
Julia:
Vinícius:
Catimbau o Escravo da Alegria:
Walter Bertolato:
P - Qual a sensação que você tem ao ver uma tela terminada?
R – Dá uma sensação de liberdade interior.
P - Qual a temática que você mais gosta de pintar?
R - Não me resolvi sobre isso ainda, mas por enquanto, estou experimentando uma série de gravuras em metal.
P - No desenvolvimento dos seus projetos de pintura você segue alguma metodologia, ou chegou a um processo próprio?
R - Na maioria das vezes procuro me expressar livre e intimamente, mas quando recebo encomendas tenho que adequar as técnicas, àquilo que me foi pedido.
P– Você pinta telas abstratas?
R - Sim.
P - Numa tela abstrata, no momento da construção de sentidos, quando chega mais a você, coisas intuitivas, como as formas, a cor, o movimento... Neste sentido, o que vem primeiro e o que é mais forte pra você?
R - Primeiro vem a inspiração, e através dela eu construo coisas em minha mente para projetar na tela, de uma maneira que o observador possa trabalhar sua percepção visual, a fim de construir com seu olhar, um significado sobre ela.
P - Apesar do curso de licenciatura ser dirigido para ensino, você chegou a receber incentivo e viu oportunidades, durante o curso, para participar de exposições?
R - Muitas e muitas vezes. Tive apoio de gente que considero muito importantes em minha vida e o resultado me deixou feliz e satisfeito.
P - Você chegou a fazer alguma escultura?
R - Sim, mas só depois que comecei a frequentar a faculdade de artes.
P - Sabe-se que há muitos pintores, que dizem que não conseguem viver sem pintar, é assim com você?
R - Não. Sou muito feliz nesse ponto. Consigo fazer contato facilmente com pessoas de várias cidades e vender meu trabalho, e graças a essas pessoas consegui concluir um curso superior de artes.
P - Você já experimentou trabalhar com outras técnicas, assim como outros materiais e tendências, onde você está nesse momento?
R - Já explorei várias técnicas. No momento estou trabalhando a técnica de gravura e também da têmpera do ovo.
P - Passando pela decoração de ambientes, hoje, as estatuetas representando mulheres "Africanas" têm uma boa vendagem, o que é modismo. Usando esse fato como exemplo, você pinta telas comerciais?
R - Sim, mas não gosto muito. Eu quero sobreviver pra alcançar meu objetivo.
P - Já participou de alguma exposição?
R - Sim, posso relacioná-las:
2001 - Exposição Coletiva no 1º Guarart e Cia - Guaraci-SP.
2003 - Exposição Coletiva no 2º Guarart e Cia - Guaraci-SP.
2006 - Exposição Individual na Agência do Banco Santander - Guaraci - SP.
2006 -Exposição Individual no Plenário da Câmara Municipal de Guaraci - SP (Acervo).
2006 - Venda de telas para o acervo particular de Jean Claude Hellain Religieux - França.
2007 - Exposição Individual na Pizzaria Palestra Itália - Guaraci - SP.
2007 - XXIII Salão de Abril de Belas Artes - Franca - SP.
2007 - Semana Cultural José Antonio da Silva - Sales Oliveira - SP.
2007 - XVI SABBART (Salão Brasileiro de Belas Artes) - Ribeirão Preto - SP.
2008 - XXIV Salão de Abril de Belas Artes - Franca - SP.
2008 - Semana Cultural José Antonio da Silva – Sales Oliveira - SP.
2008 - XXIII Salão de Artes Plásticas de Arceburgo - MG.
2008 - XXXII Semana de Portinari - Casa e Museu de Portinari - Brodoswki - SP.
2008 - Salão de Artes Plásticas do 44º Festival Nacional de Folclore em Olímpia - SP.
2008 - Exposição Metamorfose Digital 2: “Caras e Bocas”, Unifran, Franca - SP.
2008 - ll FECIART - Feira de Ciência, Arte e Tecnologia, Colégio Chamnpagnat, Franca - SP.
2009 - XXV Salão de Abril de Belas Artes - Franca - SP.
2009 - Exposição Coletiva de Gravura, Unifran, Franca - SP.
2009 - lll FECIART - Feira de Ciência, Arte e Tecnologia, Colégio Champagnat, Franca - SP.
P - Embora não pareça, a execução de seu trabalho de TCC, na cidade, está levando arte para nosso cidadão comum. Ainda que ele não perceba, há arte presente em seu cotidiano, mas, falta a valorização da arte para que ele possa mudar seu olhar para o estético. Você acredita que esse papel cabe às escolas, ou se inicia através da escola?
R - É um ciclo, e tudo se baseia nos pilares da educação (sociedade, família, escola).
P – Sabe-se que o mercado de artes no Brasil é devagar. E isso cria uma dificuldade para que os artistas possam participar de exposições, como você vê este entrave?
R - Se a montanha não vem até os artistas, os artistas é que devem ir até ela.
P - Você pensa em se apropriar de novas linguagens, como a digital?
R - Sim, mas depende do contexto.
P - O que você diria para um de nossos alunos que deseja desenvolver a arte da pintura, o que é fundamental e por onde deve começar?
R - Todas as pessoas que sentem vontade de adentrarem no mundo da arte querem aprender primeiro a desenhar e pintar, além de vários estereótipos já existentes, porém devem ter em mente que o mais importante é trabalhar a observação. O conselho que dou, é para aprenderem desde cedo a praticar mais um olhar crítico e criativo através da observação.
P - Qual a temática você está explorando atualmente?
R - Estou começando uma série de nus.
P - Você sempre tem telas à venda?
R - Sim, sempre tenho. Vendo o que as pessoas gostam, mas procuro tocá-las com idéias. Sei que elas preferem de comprar imagens e não idéias...
P - Você recebe encomendas? Caso afirmativo, cite algumas delas.
R - Sim. Fiz três telas que gosto muito e que me foram encomendadas pelo empresário Jean Claude Helain Religieux quando eu era manobrista e mensageiro do Hotel Globo Rio em São José do Rio Preto. Jean Claude viu meus trabalhos através de fotos e me desafiou a pintar uma usina sua demolida nas proximidades de paris. Pintei primeiro a usina, ele gostou e encomendou que eu pintasse a igreja onde ele foi coroinha e onde estão enterrados seus familiares. Essa igreja foi construída no século XII e está ativa até hoje na França. Logo em seguida recebi uma encomenda de seu irmão, e pintei a foto de seus sobrinhos. Os nomes dos quadros são: Usina de Mazi, Eglise de Vignoux e Retrato da Família Religieux.
Usina de Mazi:
Eglise de Vignoux:
Retrato da Família Religieux:
P - Como alguém que queira conhecer seu trabalho de arte, deve proceder?
R - Através de contato pessoal. Fone: (16) 9109-9182.
P- Quer deixar algum recado aos leitores deste blog?
R - Sim. A educação é o primeiro e mais importante pressuposto para o exercício da cidadania, mas a arte em especial eleva a educação.
O blog ‘Guaraci Divisa com Minas’ agradece ao Uiliam pelo tempo dedicado a esta entrevista. Que você tenha muito sucesso!