Ao ler um livro sobre arte, nos anos 80 - Criatividade e Processos de Criação, de autoria da brasileira Fayga Ostrower, me lembro bem que aprendi algo interessante sobre as composições de Mondrian. Um exercício de classe, em que a autora, professora carioca de arte, trabalha o posicionamento visual de um dos quatro lados de uma tela de Mondrian (perdi esse livro, devo ter emprestado a alguém que se esqueceu de me devolver). As construções de Mondrian terminam mostrando um equilíbrio perfeito entre as formas e cores dentro da tela. E como essas telas não apresentam nenhuma figura ou linha aparente de horizonte, supostamente assim, um quadro poderia ser fixado na parede, por qualquer um de seus quatro lados. Entretanto, olhando para as linhas pretas horizontais e verticais que contornam os blocos de cores brancas e primárias, embora não pareça, é possível definir, correta e intuitivamente, a posição em que a tela foi pintada. Esse exercício de cálculo do olhar instintivo, sobre a disposição estética de uma tela, eu mostro aqui, com imagens que trabalhei, afim de que você também possa vivenciar essa experiência, olhando com atenção para o balanço das cores e das formas dentro do espaço da tela. Para ilustrar melhor esse olhar intuitivo, escolhi uma tela de formato quadrado.
Veja o exemplo abaixo:
As telas de fundo branco com grade em preto, (retirei as cores) parecem, à primeira vista, que se acomodam bem, em qualquer uma das quatro posições do quadro. Mas, olhando com mais atenção, as posições 3 e 4 são mais aceitáveis pelo olhar intuitivo. A linha horizontal, nestas duas posições, forma na base do quadro, blocos que nos deixa perceber algo parecido com um horizonte. Há um relativo ‘peso’ na base, que o olho aceita como mais harmonioso. As posições 1 e 2, ao contrário, estão em forma de ‘L’, que parecem invertidos, considerando que ficaram sem o sentido de base. O quadrado maior voltado para baixo fica sem nenhum elemento para sustentá-lo.
Quando olhamos para o quadro com suas cores, ele parece nos convidar intuitivamente, a procurarmos pela melhor posição, para fixá-lo na parede.
Posição 1. O quadro parece invertido e mais ‘pesado’ do lado esquerdo.
Posição 2. O quadro parece invertido e mais ‘pesado’ do lado direito.
Posição 3. Parece melhor, mas ainda sem o devido balanço na base. Os blocos, amarelo e azul, não se equilibram com o grande bloco vermelho, à esquerda. O bloco vermelho parece sem sustentação no lado inferior esquerdo da tela. O bloco azul da base, em diagonal com o vermelho, dá suporte aos blocos da coluna vertical onde está o amarelo. O bloco azul em relação ao bloco vermelho dá mais impressão de giro do que de suporte.
Assim, o quadro parece perfeito. A base formada pelos blocos azul e amarelo, nesta posição, é mais solidamente visível, nesta posição do quadro. E esta base dá suporte ao ‘peso’ do bloco vermelho.
Veja agora os quatros lados juntos:
Se você observou bem, a posição 4, é a posição que se acomoda melhor ao olhar intuitivo, e é esta a posição em que a tela foi pintada.
Veja agora a tela sem a grade de linhas pretas:
Retirando a força das linhas pretas que conduzia o olhar, horizontal e verticalmente, os blocos parecem perder o ‘peso’ da base. Assim, as quatro posições parecem aceitáveis, embora a posição 2 se apresente mais harmoniosa, porque, nesta posição, o bloco amarelo está na horizontal e na base. Na posição 4, o pequeno bloco amarelo, não encostando no bloco vermelho, deixa o conjunto desarmônico, porque não sustenta o ‘peso’ do bloco vermelho que pede para se juntar ao amarelo.
Vejamos agora a tela com o bloco amarelo alongado:
Alongando artificialmente o bloco amarelo até que encostá-lo no vermelho, todas as quatro posições parecem bem. Note também que a ausência da grade deixa a composição empobrecida.
“O olho é a janela do corpo humano pela qual ele abre os caminhos e se deleita com a beleza do mundo”.
Leonardo Da Vinci (1452-1519)
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